terça-feira, 3 de junho de 2008

Sem perspectivas de futuro?

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Eram onze horas. O sino da torre dobrava, anunciando que tinha falecido alguém. Era a hora do funeral.

Estava no adro da igreja. A meu lado, sentado no cais, um idoso de bengala olhava para mim. Com alguma tristeza estampada no rosto, comentou: “coitado do Centeio, já se foi. Qualquer dia, não há cá ninguém. Olha pra isto, só cá há velhos”.

Olhando em redor, confirmei aquilo que há muito todos sabemos. Sentados no cais, cerca de uma dezena de idosos aguardavam a chegada do funeral. Na rua nada se vislumbra a não ser o vazio, as casas sem ninguém e as placas coloridas a dizer “Vende-se”.

Finalmente o funeral chega. Trazia bastante gente e pensei, afinal ..., mas não, a maioria das pessoas é de fora. São familiares e amigos da família enlutada, que vieram prestar ao Centeio uma ultima homenagem. Uns, por entre outros, eram residentes da Lousa. Também idosos e idosas na sua maioria. Muitos são reformados, outros são viúvos. Alguns mais novos são ex-emigrantes, que regressaram à terra depois de terem amealhado o suficiente para terem uma velhice descansada.

Ao lado, a caminho do almoço no Centro de Dia, passam as crianças do infantário acompanhadas das educadoras. Dezasseis crianças, metade das quais são da vizinha freguesia da Mata. Apenas nos restam oito crianças em idade pré-escolar. Enorme contraste quando sabemos que nos princípios dos anos sessenta havia quase duas centenas de crianças na escola.

Pensei no resto da freguesia. Em muitos locais e ruas, o silêncio é o único vizinho comum aos poucos que ainda vão resistindo. As pessoas já se esqueceram do tempo em que se ouviam os risos de crianças e em que, logo pela madrugada, as ruas eram invadidas por imensas pessoas e animais a caminho do campo.

Hoje não se vê actividade, apenas reside a calma, uma calma assustadora que parece assombrar tudo. Os idosos são cada vez mais idosos e vão morrendo. As crianças não nascem.

Infelizmente é esta a realidade da Lousa e das povoações vizinhas. Caminhamos a passos largos para uma situação de desequilíbrio total.
A Lousa está a tornar-se numa aldeia envelhecida e doente, sem jovialidade e sem perspectivas de futuro.
Mas, que devemos fazer para inverter esta realidade? Não consigo vez nenhuma luz ao fundo deste tenebroso túnel.
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